Nesta simples análise explicamos como um prestador de serviços, seja advogado, assessor de imprensa, designer ou fotógrafo sofrem as consequências da noção da “borla” e como se irritam com organizações que falam muito de empreendedorismo e depois solicitam “voluntários”…
Quando se pede a um amigo fotógrafo, advogado ou assessor de imprensa um “favor” nada de mal vem ao mundo. É o reflexo de um modelo de economia informal e depende deste “amigo” decidir, por sua livre e espontânea vontade se aceita.
A conversa muda de tom quando estamos a referir-nos a empresas e/ou a colaboradores dessas empresas. Muitas vezes entendem que o prestígio e o “criar currículo” é um chamariz suficiente para “cativar” o profissional para um negócio que é apenas vantajoso para uma das partes.
É que os trabalhadores por conta própria têm uma fórmula perfeitamente concreta para definir o valor pelo qual devem ser remunerados. Não a conhece? Aqui vai
RE = (C.E.M + C.A.M. + C.I.E. + L.P.) / H
Não é difícil de perceber. O Rendimento Esperado (valor dos serviços) é igual ao Custos de Estar no Mercado (sabe, aquelas coisas que não podemos evitar, como Impostos, Segurança Social, Registo de Actividade, Contabilista e Espaço para Trabalhar) somado ao Custo de Aquisição de Material (onde se inclui desde os computadores, software, telemóvel, acesso à Internet ao custos das formações que se fez para se chegar a um determinado nível) e aos quais se deve adicionar o Custo Inerente ao Evento/Serviço (que tem como variáveis coisas como o Tempo Disponível para Preparação e Pós-Produção, o tempo disponível na actividade ou os custos de deslocação e de desgaste do material) ao qual se deve, convém, adicionar uma margem (LP= Lucro Potencial).
Estas variáveis devem ser divididas pelo número de horas que o profissional pretende trabalhar, de forma a definir aquilo que efectivamente custa ao cliente.
Este factor é fundamental, pois quando um profissional por conta própria aceita um trabalho está “impossibilitado” de fazer outro naquelas mesmas horas e também deve calcular o custo de não estar a fazer actividades pessoais ou familiares (desde um treino, um jantar com amigos ou passar mais tempo com a mulher/namorada/filhos).
Ser profissional é não aceitar borlas, por natureza.É assumir um claro confronto com organizações supostamente a viver graças aos voluntários. Quando aceitamos realizar gratuitamente uma atividade profissional (seja um cartaz para uma conferência ou a contabilidade de uma empresa), estamos a prejudicar terceiros.
Vários profissionais do mesmo ofício que, por causa da “borla”, estão a ser confrontados com pedidos de abaixamento de “orçamentos” ou o puro desprezo: “conheço alguém que faz isto sem receber… “.
Terminamos lembrando que é na lógica de mercado que devemos mostrar as nossas competências, não é estragando o mercado a todos.
João Oliveira, assessor de imprensa
Rui Costa, fotógrafo
Antero Almeida, advogado
(artigo originalmente publicado no Linkedin)